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São diversos os relatos de pessoas que dizem ter visto, na várzea, grandes jogadores com possibilidade de se tornar profissional. Isso não é mentira alguma, eu mesmo vi.
Recentemente, participei de um festival de futebol juntamente com alguns profissionais. Estávamos sentados no banco de reservas e o Dodô, aquele mesmo, o artilheiro dos gols bonitos, ressaltou que tinha uns cinco ou seis jogadores no campo com capacidade para se profissionalizar.
Fiquei pensando sobre isso. No futebol, é comum o relato de que a sorte ou uma boa indicação chegam a ser mais importantes do que o próprio talento. No entanto, depois de tanto pensar estabeleci uma tese. Não é o fato do jogador ter tido sorte ou talento, o problema está naquele que está olhando e buscando os talentos.
Os clubes profissionais não são profissionais. Raramente são colocados especialistas para analisar e garimpar bons talentos. Hoje a negociata fala mais alto. Vários empresários com bom trânsito realizam a maioria das contratações. Existem muitos exemplos em diversas equipes, haja vista Carlos Leite no Corinthians e Eduardo Uram no São Paulo. Geralmente, quando o clube se interessa por um jogador ele tem que levar outro, com menos expressão, para conseguir o que queria, ambos os atletas são do mesmo empresário e ele precisa desenvolver a carreira dos deles. Não digo que isso seja errado, mas é como funciona.
A fórmula do "bom e barato" é antiga, mas teve maior conotação no Palmeiras durante a administração Mustafá. O time seguiu essa política e foi rebaixado em 2002. Os torcedores tem até aversão ao ouvir falar do "bom e barato". Mas não é isso que o São Paulo, tricampeão brasileiro, fez por tanto tempo? O time do Corinthians, formado com os ditos "refugos" de outros clubes (Cássio, Alessandro, Fábio Santos e outros), não se sagrou campeão Mundial?
Se hoje a economia permite que os times gastem um mundaréu de dinheiro em contratações, em outros tempos não foi assim. O olheiro, profissão das mais importantes do futebol, está extinto. Aqueles times que tem um entendedor, tem ouro.
O bom e barato existe, é possível. Basta aplicação e interesse em procurar.
A superioridade econômica do Brasil permite que contratemos qualquer jogador da América do Sul. Existem vários. O Barcos foi um risco? Quem o acompanhava sabe que não. Mas para entender a falta de profissionalismo, sobre a contratação Frizzo disse que o Palmeiras não era marina para ter barco.
Lembram do Carrossel Caipira (foto)? Ainda há muitos jogadores para descobrir nos clubes interioranos, afinal, eles são formadores e nunca deixaram de produzir a matéria prima. Apenas os grandes clubes deixaram de enxergar.
Por fim, onde estão os olheiros? Onde estão os amantes do futebol para encontrar os bons jogadores? Onde está o profissionalismo?
Talvez um dia iremos entender o motivo de saírem, anualmente, mais de mil jogadores para o exterior. Aí, depois nos assustamos com Hulk, David Luiz e outros atletas que puxamos na memória mas aceitamos nunca conhecemos. Os europeus, profissionais, sabem tudo sobre o atleta que lhes desperta o interesse, garimpam nossos jogadores tão bem como nunca fizemos.